quinta-feira, 1 de abril de 2010

A Música e os Trinta e Poucos

A música é como um ser mutante, que ao passar do tempo desenvolve novas facetas, novas características. E muitas vezes nem precisa passar uma década para se ter uma mudança considerável na música mundial, nas nuances que se tornam perceptíveis em boa parte dos trabalhos lançados.

Acostumado a conviver com a música desde criança, ouvindo meu rádio do Pato Donald, primeiro aprendi a ouvir as músicas dos meus pais. Perto dos meus 10 anos, em meados dos anos 80, passei a beber na fonte das paradas de sucesso e rádios FM. Chacrinha, rock Brasil dos anos 80, pop internacinal, Madonna, Michael Jackson (com direito a imitação e dança break), trilhas de novela, tudo vinha parar nos meus ouvidos, era entendido muito facilmente, passando a fazer parte dos meus dias, furando os discos de vinil de tanto ouvir, ou rodando o dial do meu walkman atrás das minhas músicas preferidas. Este foi o trampolim para a criação da minha identidade musical que começou a incorporar o rock, nos seus mais variados estilos, e mais tarde a MPB, blues, Jazz, Soul, Funk e R&B clássicos, assim que passei a tocar um instrumento.

Meu gosto eclético absorveu todas as mudanças da música, dos seus formatos, sua estética sonora, surgimento de novos elementos e sempre tive sede por mais. Houve épocas que além de consumir minhas bandas e artistas preferidos, muito deles consagrados, ainda partia para o garimpo de novas bandas e novas músicas, muitas delas de artistas ainda anônimos, tudo isso possibilitado com o acesso à internet, é lógico. "Toneladas" de músicas foram ouvidas por mim, mesmo ainda com internet discada, admiradas pela letra, amadas pela sonoridade, ou dissecadas instrumento a instrumento, mesmo assim, sempre havia um próximo artista, álbum, ou canção em vista.

Hoje me reconheço um tanto diferente. Me afastei dos instrumentos musicais. Gosto de ouvir coisas já adquiridas, redescubro e relembro velhos sons dos meus velhos CDs e pareço não ter pique para correr atrás de novidades. Questiono-me: essa falta de motivação é coisa da idade, ou do cenário musical atual, que não seria atraente para mim?

Não sei responder esta questão. Sinceramente. A minha vida, obviamente, também mudou muito com o passar dos anos. Casado, trabalhando em TI, adepto do sedentarismo radical, uma acomodação natural prima em se estabelecer, vai ganhando terreno e vou deixando coisas por fazer. Por isso penso se a falta de motivação não está em mim. E em contra partida, há algum tempo que novas bandas, novos artistas, novos sons não ganham minha atenção, minha admiração. Com exceção de novos trabalhos dos meus antigos preferidos, o Chickenfoot foi a única nova banda que me ganhou nos últimos tempos. E o Chickenfoot é uma banda nova, mas formada por gente já de meu conhecimento e gosto, de outras bandas e projetos.

Escrevendo agora comecei a me perguntar ainda se a questão não é eu ter me cansado de mesmices. No rock, temos por exemplo um ícone do punk rock como "The Ramones", e um monte de bandas que já se encheram de inspiração no som deles, algumas das quais eu curti na minha juventude, além dos originais. Agora temos o surgimento de várias outras bandas, muitas nacionais inclusive, com os mesmos elementos musicais, cada vez mais distantes da atitude punk original, e chamados à revelia de "emos". Independente dos rótulos, não consigo assimilar como algo novo e muito menos admirar ou gostar a ponto de consumir. Não que ache tudo um lixo. Como em todos os rótulos da música, sempre existem os bons e os péssimos debaixo do mesmo guarda chuva. A questão de fato é que mesmo as boas bandas novas não dizem muito para mim.

E ainda o mesmo acontece para outros estilos e tendências ainda mais modernas. Não consigo ver o brilho descrito por muitos críticos ou aclamado pelo público, em determinados sons e trabalhos. E fico nessa. Sinto uma necessidade de ir mudando as músicas que estou ouvindo, pensando em conseguir novidades, mas vou sempre buscando o que mais tempo faz que ouvi, dentro do meu bom e velho gosto. Pelo menos tenho um gosto eclético, senão acho que ía ficar louco...

Opiniões e comentários são bem vindos. :-D